The International Journal of Inclusive Democracy, Vol. 5, No. 2 (Primavera 2009)


O Crime dos Sionistas, a Elite Transnacional e a Postura da Esquerda*

TAKIS FOTOPOULOS

 

(Tradução por Mauro Cavalcanti)

 

Violência sionista como parte e parcela da violência sistêmica

 

Os sionistas israelenses, com o seu novo crime brutal na Palestina, ou seja, o banho de sangue que desencadearam contra um povo indefeso que havia sido estrangulado economicamente, talvez tenham se superado em sua longa história criminosa. Este crime não só é totalmente apoiado por todos os sionistas de todo o mundo que, nos últimos sessenta e tantos anos, conseguiram dominar as comunidades judaicas que, antes da segunda guerra mundial, estavam longe de ser solidárias com o plano sionista, com vários distintos intelectuais judeus de esquerda atacando sua natureza potencialmente criminosa. Também recebeu o apoio direto ou indireto da elite transnacional igualmente criminosa[1] (ou seja, as elites dos EUA e da UE), bem como a dos seus tirânicos regimes árabes sátrapas (Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Emirados do Golfo, etc.). Ao mesmo tempo, no entanto, a própria magnitude deste novo crime levou a um novo despertar da consciência dos povos, que já está sendo expressa por um movimento de resistência crescente, apesar da grosseira lavagem cerebral e desorientação perpetuada pela mídia internacional, que é controlada pelas elites.[2] Particularmente, quando este novo crime vem na sequência do ainda em desenvolvimento enorme crime econômico contra a humanidade criada pela crise crescente da economia de mercado capitalista globalizado[3] ― que também foi iniciada pela elite transnacional, as elites locais e os grupos sociais privilegiados a eles associados, que desfrutam dos benefícios da globalização neoliberal.

 

Essa resistência não é surpreendente, é claro, já que é inevitável que as pessoas vão cada vez mais tomar consciência de que a violência sistemática contra o povo palestino é parte integrante da violência sistêmica global exercida pela mesma elite transnacional, com o apoio das elites locais em toda o mundo, sob o mantra de uma "pseudo-democracia" que não tem nada a ver com a verdadeira democracia, isto é, o exercício direto de todos os tipos de poder por parte das próprias pessoas[4] e não pelas elites políticas dos políticos profissionais, ou pelas elites econômicas que controlam a economia de mercado capitalista internacionalizada. É a mesma violência sistêmica que:

  • ontem, sob a forma de brutal violência física, matou e mutilou centenas de milhares de pessoas na Iugoslávia[5], no Afeganistão[6] e no Iraque[7], a fim de esmagar toda a resistência à Nova Ordem Mundial, imposta pela elite transnacional nos últimos vinte anos ou mais;

  • hoje, sob a forma de violência econômica, condena cada vez mais milhões de pessoas ao desemprego, pobreza e miséria, de forma que as camadas sociais privilegiadas possam aumentar ainda mais a sua riqueza acumulada e continuar a desfrutar de um estilo de vida que levou o planeta à beira da destruição ecológica,[8]

  • amanhã, poderia materializar-se como uma combinação de ambos, violência econômica e física dos países da própria elite transnacional e dos países dependentes, com a explosão social na Grécia, em dezembro passado, vindo a ser o precursor desta[9].

O "crime" do povo de Gaza

 

O "crime" do povo de Gaza que está sendo massacrado hoje é ter votado ― executando fielmente todas os procedimentos "democráticos" impostos pela elite transnacional ― em um regime que estava comprometido com o não-reconhecimento do regime sionista, que, ao longo dos últimos 60 anos, ocupou pela força, ou sob ameaça da força (como historiadores judeus progressistas também admitem),[10] não só os territórios que lhe foi dado pelas Nações Unidas em 1948 (sem, é claro, ninguém ter pensado em pedir a opinião dos palestinos nativos que em sua grande maioria estavam vivendo nesta terra durante centenas de anos!), mas também o resto da Palestina, graças às campanhas do exército sionista, ou seja, o policial do Ocidente que, com a bilhões de dólares que estão sendo derramados pelo Ocidente, é agora um dos quatro mais poderosos exércitos do mundo. O resultado: 1,5 milhões de refugiados já foram espremidos, nas condições mais desumanas, na região costeira de Gaza, uma área do tamanho da Ilha de Wight.

 

Portanto, independentemente do caráter islâmico do regime, o não-reconhecimento de um regime expansionista e racista[11] e a resistência contra a ocupação militar por todos os meios de luta popular contra a violência é uma tarefa óbvia e necessária, reconhecida até mesmo pelo direito internacional. No entanto, existem algumas auto-declaradas correntes libertárias recusando-se a apoiar esses tipos de violência popular anti-sistêmicos, que são baseados em movimentos religiosos, irracionais ― uma postura que é irrelevante para a prioridade imediata de derrubar a violência sistêmica em primeiro lugar! Os refugiados de Gaza tiveram que ser esmagados, então, porque não mostraram qualquer intenção de ceder aos sionistas e comprometer os seus direitos, como os estratos principalmente burgueses na Cisjordânia fizeram em seu apoio ao regime de Abbas protegido pelos sionistas, a elite transnacional e os sátrapas árabes. Esse regime mostrou disponibilidade para aceitar o papel de líder dentro de um protetorado do tipo bantustão que os sionistas estariam dispostos a conceder-lhes, em troca do reconhecimento pleno de um estado sionista puro na Palestina por todo o mundo árabe (o que a "comunidade internacional" ― leia-se a elite transnacional ― eufemisticamente chama de "solução de dois Estados").

 

A campanha pela "mudança de regime" em Gaza

 

Assim, logo após a vitória do Hamas em Gaza, a elite transnacional e seus sátrapas árabes iniciaram uma campanha para a "mudança de regime", exatamente como foi realizado com sucesso na Iugoslávia e no Iraque. O objetivo era esmagar a moral do povo de Gaza, para que, nas próximas eleições, votasse em Abbas, o "escolhido" ― ou seja, favorecido pelos sionistas, a elite transnacional e seus sátrapas árabes. A campanha começou com uma guerra econômica desgastante. Assim, a alegada retirada das forças de ocupação sionistas, em 2005, na prática significou o bloqueio militar da Faixa de Gaza por terra, ar e mar e a criação de, talvez, o maior gueto da história, completo com a fiel aplicação dos métodos de represália coletiva empregados pelos nazistas. Este crime maciço contra o povo palestino foi dissimulado pela "indústria do Holocausto", ou seja, a ideologia sionista, que foi denunciada por um judeu[12], cuja própria família foi vítima dos campos de concentração ― um fato que não impediu criminosos sionistas e cripto-sionistas em todo o mundo de acusá-lo de anti-semitismo, acusação feita também contra qualquer outro judeu de espírito justo ou partidário da esquerda radical que se atreveu a denunciar o crime perene que é o sionismo.

 

Então, depois do 11 de Setembro, as desavergonhadamente mentirosas elites do estado terrorista sionista (com a ajuda decisiva da mídia internacional ― controlada pela elite transnacional ― que, basicamente, apresenta apenas a versão sionista da "verdade") prontamente classificaram o regime insubmisso do Hamas entre os regimes "terroristas" fora-da-lei com base em que ele supostamente ameaçava a própria existência dos judeus na Palestina! Esta afirmação ridícula foi feita com o pleno conhecimento de que todos os exércitos árabes e do regime iraniano juntos (e muito menos o regime do Hamas no isolamento!) nunca poderiam ter sucesso na eliminação do Israel sionista, em face de seu exército extremamente poderoso com a sua capacidade nuclear, apoiado pelo exército mais poderoso na história humana: o exército criminoso dos EUA! Ao mesmo tempo, os sionistas promoveram o mito da sua retirada da Faixa de Gaza, ou seja, uma "retirada", que, complementada por sua guerra econômica, levou à catástrofe econômica atual na Faixa de Gaza: de acordo com o último relatório da Cruz Vermelha Internacional,[13] 70% das pessoas na Faixa de Gaza sofrem de desnutrição crônica e cerca de 40% da população foi condenada à pobreza absoluta, com rendas de 90 euros por mês sendo a norma para as famílias que necessitam de alimentos para 7-9 pessoas.

 

A campanha sionista pela "mudança de regime" ― um plano que, inadvertidamente, tem sido admitido por alguns funcionários do governo (por exemplo, dois dias depois do ataque a Gaza, o embaixador de Israel na ONU, Gabriela Shalev, disse que vai continuar "pelo tempo que for preciso para desmantelar o Hamas completamente"[14]) ― está em curso em paralelo com o crime atual e, mais uma vez, uma mentira sistemática está sendo usada para disfarçá-lo. Enquanto no Iraque a suposta ameaça foi a de "armas de destruição em massa", que nunca foram encontradas, na Faixa de Gaza é a dos "foguetes" disparados pelo Hamas, que foram descritos como se segue por um correspondente da BBC:

Grande parte do arsenal dos militantes palestinos é composto de foguetes não-guiados, toscamente fabricados ― pouco mais do que explosivos acondicionados em tubos com aletas de metal soldadas na final.[15]

Não admira que este tipo de "guerra", como é apresentada pelos sionistas e pela mídia internacional controlada pela elite transnacional, até agora causou a morte de 4 israelenses ao contrário de mais de 400 palestinos mortos pelos ataques aéreos. Claramente, os sionistas também têm superado seus professores nazistas em termos de represálias coletivas aplicadas contra os que resistem à sua ocupação: enquanto a proporção nazista era de 50 civis mortos para cada alemão, a proporção sionista é de 100 habitantes de Gaza mortos para cada israelense! No total, nos últimos oito anos os palestinos dispararam 8.500 foguetes de Gaza contra Israel, matando 20 civis, em contraste com os 5.000 palestinos mortos pelos F16 e Apaches sionistas (ou seja, uma proporção de 357 palestinos para cada israelense morto),[16] ―1.700 dos quais morreram em ataques militares israelenses desde que os colonos judeus foram retirados da Faixa de Gaza há três anos[17].

 

A campanha de mídia sionista de pura distorção e mentiras

 

Ao contrário das sistemáticas mentiras sionista sobre o Hamas rompendo o cessar-fogo, etc, agora há, de fato, esmagadoras evidências que sugerem que a presente campanha criminosa foi de puro homicídio premeditado, não tendo nada a ver com o Hamas fez ou não fez militarmente durante o período de cessar-fogo. Eis como um sério analista de assuntos palestinos descreveu este processo em um revelador artigo no Observer,[18] com base nas informações dadas a ele por Dan Gillerman, embaixador de Israel na ONU até poucos meses atrás :

Meses atrás, quando Israel se preparava para lançar sua mais recente onda de desolação (...) também entendeu que uma operação paralela seria necessária para convencer o resto do mundo da justiça de sua causa (...) Após o fiasco da sua invasão do Líbano em 2006 ― não apenas um desastre militar para Israel, mas também político e diplomático ― o governo de Tel Aviv passou meses preparando o terreno em casa e no exterior para o assalto a Gaza com um lobby silencioso mas enérgico dos governos e diplomatas estrangeiros, particularmente na Europa e em partes do mundo árabe. Uma nova diretoria de informações foi criada para influenciar a mídia, com algum sucesso. E quando o ataque começou pouco mais de uma semana atrás, uma onda de diplomatas, grupos lobistas, blogueiros e outros partidários de Israel foi desencadeada para martelar no país um punhado de mensagens cruciais cuidadosamente elaboradas para garantir que Israel fosse visto como a vítima, mesmo que o seu bombardeio tenha matado mais de 430 palestinos na semana passada, pelo menos um terço dos quais civis ou policiais (...) Em comunicados em Jerusalém e Londres, Bruxelas e Nova York, as mesmas mensagens cruciais foram repetidas: que Israel não teve escolha senão atacar em resposta à barragem de foguetes do Hamas, que o ataque recairia sobre "a infra-estrutura do terror" em Gaza e os alvos seriam, principalmente, combatentes do Hamas; que civis morreriam, mas porque o Hamas esconde seus combatentes e fábricas de armas entre as pessoas comuns (...) De mãos dadas com uma estratégia para eliminar o problema da ocupação do debate. Gaza foi libertada em 2005 quando os colonos judeus e o exército foram retirados, disseram os israelenses. Poderia ter florescido como base de um Estado palestino, mas seus habitantes escolheram o conflito.

Em consonância com esta estratégia de absoluta distorção dos fatos, Israel retratou o Hamas como parte de um eixo do mal de fundamentalistas islâmicos, juntamente com o Irã e o Hezbollah. Na realidade, as ações do Hamas foram uma expressão da resistência popular contra a ocupação continuada da Cisjordânia, o bloqueio de Gaza e a matança continuada de um grande número de palestinos pelas forças armadas israelenses desde a retirada. Não admira que a liderança sionista tenha tido a coragem de enganar a opinião mundial de forma tão gritante, com políticos profissionais desonestos como Tzipi Livni declarando em Paris, logo após o início da invasão por terra, que não havia nenhuma ameaça de um desastre humanitário em Gaza, apesar dos relatos em contrário por parte da ONU e das organizações da Cruz Vermelha no local, e que "Israel é parte do mundo livre e da luta contra o extremismo e o terrorismo -- o Hamas não é", enquanto Simon Peres, o supostamente "progressista" ex-líder do Partido Trabalhista, não teve dúvidas em declarar em 1/4/2009, em um desprezo desdenhoso pelo desgosto mundial com o crime sionista, que "o Hamas precisa de uma lição real e séria. Agora eles a estão recebendo"!

 

Esta propaganda puramente Goebbeliana foi apresentada não só por todos os meios de comunicação controlados pela elite transnacional, incluindo organizações outrora respeitáveis como a BBC (cuja cobertura foi totalmente tendenciosa em favor dos sionistas e apoiada por uma barragem de histórias da "indústria do Holocausto" em meio ao massacre palestino!), mas também pelo exército israelense, que postou um vídeo no YouTube, enquanto diplomatas de Israel em Nova Iorque organizaram uma "conferência de imprensa para os cidadãos" de duas horas no Twitter para milhares de pessoas. Como se tudo isso não bastasse, Israel, talvez pela primeira vez na guerra moderna, impediu completamente os jornalistas estrangeiros de testemunhar os resultados da sua estratégia, apesar de seus próprios tribunais terem julgado este ato como ilegal! Obviamente, não queria que o mundo visse seu massacre "defensivo" de um povo indefeso ― apenas a "agonia" sofrida pelos israelenses dentro de Israel devido aos patéticos "explosivos embalados em tubos" do Hamas. No entanto, ele tem o descaramento de dizer que é um oásis "democrático" no Oriente Médio!

 

Desnecessário dizer que os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade cometidos por Israel só puderam ser testemunhados e conhecidos através da Al Jazeera, o único canal de televisão internacional que pode enviar fotos do interior de Gaza (uma vez que é gerenciado por palestinos que não precisam de aprovação do regime sionista): ou seja, de eventos como o bombardeio intencional de um mercado de frutas local, que levou à morte de muitos civis, ou o bombardeio de ambulâncias e casas particulares ― além do fato de que, como os médicos no hospital de Gaza testemunharam, os feridos foram morrendo por causa da falta de medicamentos resultante do embargo econômico.

 

Não admira que os sionistas não tenham dúvidas sobre a interpretação do direito internacional na forma que melhor poderia "justificar" as suas reivindicações. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha ― guardião das Convenções de Genebra sobre as quais se baseia o direito humanitário internacional ― define combatente como uma pessoa "diretamente envolvida nas hostilidades". Mas o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF) Benjamin Rutland disse à BBC[19]: "A nossa definição é que quem quer que esteja envolvido com o terrorismo dentro do Hamas é um alvo válido. Isto abrange das instituições estritamente militares às instituições políticas que proporcionam o financiamento da logística e recursos humanos para o braço terrorista".

 

No entanto, como Philippe Sands, professor de Direito Internacional do University College de Londres, afirmou, ele não tem conhecimento de qualquer democracia ocidental ter usado uma definição tão lata e condena os truques legalistas dos criminosos sionistas como se segue:

Depois de ampliar a definição de combatente da maneira como a IDF está aparentemente fazendo, você começa a associar indivíduos que são apenas indireta ou perifericamente envolvidos (...) e ela torna-se uma definição aberta, o que prejudica o próprio objeto e finalidade das normas que se destinam a ser aplicadas.

Apesar disto, organizações não governamentais como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional, que eram particularmente exigentes em demandar o indiciamento dos inimigos da elite transnacional como Milosevic ou Saddam Hussein por crimes de guerra ou crimes contra a humanidade, nunca levantou uma única tal demanda contra comprovados criminosos de guerra sionistas como Sharon, no passado, ou Tzipi Livni, Simon Peres, Ehud Barak e Ehud Olmert hoje!

 

A posição da Esquerda: manter uma distância igual de perpetradores e vítimas

 

No entanto, esses fatos não impediram a centro-Esquerda e a Esquerda européias de condenar a violência "de onde quer que ela venha", ou seja, mantendo, como habitualmente, uma distância igual dos agressores e vítimas e igualando a violência sistêmica dos sionistas com a contra-violência dos movimentos de resistência contra as forças de ocupação. Não admira que o partido da Esquerda Européia mais uma vez demandou "[20] ― após o último crime ter começado a realizar-se ― uma solução de dois estados sob o lema "Outro Oriente Médio é possível", de acordo com seu slogan igualmente utópico e em última instância sem sentido "Outro mundo é possível". Também não é de estranhar que esta "solução" seja também apoiada pela elite transnacional e seus sátrapas árabes, bem como pelos próprios sionistas, que gostariam que o seu "puro" regime sionista fosse perpetuado lado a lado com um protetorado dependente do tipo bantustão!

 

Por outro lado, a "Esquerda" sionista (Crossman, Amos Oz, et al.) adota uma posição semelhante, também negando o direito do povo palestino de resistir, alegadamente porque o seu "terrorismo" mata "inocentes" (a esmagadora maioria dessas pessoas consente aos crimes sionistas ― especialmente o mais recente, como todas as pesquisas de opinião indicaram), enquanto as múltiplas vítimas palestinas do terrorismo de Estado sionista são, naturalmente, apenas referidas como "dano colateral", em adoção à linguagem criminosa dos militares norte-americanos em seguida ao seu assassinato de civis em escala maciça no Vietnã, Iraque, Afeganistão e outros lugares.

 

A única solução real: um estado multicultural na Palestina

 

Por que esse grande banho de sangue? A resposta simples foi dada por John McCarthy, analista britânico, no primeiro dia da invasão por terra[21]:

Há poucos sinais de que a velha guarda israelense, totalmente comprometida com as metas sionistas de criação do Eretz Israel (um Grande Israel que se estende do Mar Mediterrâneo ao Rio Jordão), planeja abandonar muita terra em qualquer caso: 250.000 israelenses já vivem na Cisjordânia. Pelo contrário, os programas de construção de estradas e colônias de Israel continuam em ritmo acelerado. A política de Israel sempre foi a construção de "fatos no terreno", enquanto atrasa a aceitação de quaisquer fronteiras definitivas. Seu fundador e primeiro-ministro, David Ben-Gurion, resumiu isso com a frase "onde nós lavramos nossos últimos sulcos na terra é onde colocamos nossa fronteira". Os herdeiros políticos de Ben-Gurion ainda estão lavrando. Embora admitindo que um Estado palestino de algum tipo seja necessário para garantir que Israel seja mantido tão puramente judeu quanto possível, eles vão adiar o delineamento desse estado até que Israel acabe com tanta terra e tão poucos palestinos quanto possível, sobre essa terra. Conforme Israel continua a criar cada vez mais "fatos no terreno", as perspectivas de ser oferecida aos palestinos uma parte razoável do que era para ser a sua pátria se tornam cada vez mais remotas. Os israelenses, presumivelmente, contarão que os palestinos se tornem tão desesperados por seu próprio estado, em meio ao cansaço internacional e ineficácia, que atingirão seus objetivos territoriais e demográficas.

Isto confirma, mais uma vez, a conclusão a que cheguei no passado[22], que o crime histórico de criação de um "puro" estado judeu na Palestina teria sido evitado e centenas de milhares de vidas (a grande maioria delas de palestinos) teriam sido salvas, se a condenação de um tal movimento por judeus proeminentes de Esquerda como Hannah Arendt e Isaac Deutscher e os Sionistas de Esquerda, que exigiram um Estado bi-nacionalista, tivessem sido ouvidas[23]. Em outras palavras, se as terras palestinas não tivessem sido divididas (de forma desigual, desde o início a favor dos sionistas!) com o objetivo de criar dois Estados, mas, ao contrário, tivessem sido utilizadas como fundamento para um Estado secular multicultural único, que teria abrigado tanto os refugiados palestinos e judeus, particularmente da Europa, que desejassem se mudar para lá. Na verdade, este é o tipo de solução que agora está ganhando apoio crescente entre progressistas judeus anti-sionistas e palestinos, que reconhecem que a "solução de dois Estados" efetivamente leva a um monstro sionista e um bantustão palestino.

 

Isto é particularmente óbvio agora que está claro que o objetivo sionista sempre foi judaizar a Palestina, forçando os palestinos a abandonar as suas terras sob pressão intolerável ― um objetivo claramente racista, tal como foi sublinhado por Avraham Burg, que, apesar de ter sido presidente da Organização Sionista Mundial, no passado, rejeita como racista a noção do Antigo Testamento de que os judeus são o povo escolhido por Deus. Por razões semelhantes, Shlomo Sand, professor da Universidade de Tel Aviv, afirma que Israel não deve ser um Estado judeu, mas uma democracia laica, que pertença a todos os seus cidadãos ― uma posição próxima a da Democracia Inclusiva sobre a questão Palestina.[24]

 

Está, portanto, tornando-se hoje cada vez mais claro que o caminho para sair do círculo vicioso de derramamento de sangue teria que que transcender a catastrófica solução de dois Estados. A demanda por um estado multicultural, que foi inicialmente proposta pela Esquerda judaica e apoiada pela Esquerda radical na Europa mais de cinqüenta anos atrás, está novamente na ordem do dia. Várias correntes estão se reforçando, tanto entre os palestinos progressistas[25] quanto os judeus pós-sionistas[26] para encontrar uma solução que, rejeitando tanto o sionismo e o irracionalismo religioso (judeu e palestino igualmente), teria como finalidade criar um Estado multicultural e inclusivo para todos os povos que vivem na Palestina hoje. Na verdade, essa solução seria também perfeitamente consistente com a evidência histórica, que mostra claramente que os árabes e judeus de fato conviveram harmoniosamente na bacia do Mediterrâneo, enquanto a nação árabe estava florescendo[27], e que as diferenças religiosas irracionais não impediram milhões de judeus, cristãos e outras pessoas de viverem harmoniosamente dentro das fronteiras do Império Otomano. Da mesma forma, milhões de judeus de hoje não tem nenhum problema em viver (e prosperar) junto com outros povos da Europa e dos EUA.

 

Claramente, uma solução de um Estado sob a forma de um estado multicultural inclusivo seria um passo importante para a criação de uma Democracia Inclusiva Confederativa na Palestina. Isto porque tal solução poderia não apenas conduzir a uma forma de governo que não teria qualquer relação com a atual "democracia" sionista racista e a Autoridade Palestina autoritária ― resolvendo assim o problema dos refugiados em ambos os lados ― mas também poderia representar um passo decisivo rumo a uma futura confederação dos povos da Palestina, com base em uma Democracia Inclusiva. No entanto, os sionistas, em perfeita harmonia com a elite transnacional, não estão sequer preparados para discutir a solução de um estado multicultural único para os povos da Palestina e, pelo contrário, têm lutado contra qualquer solução que pudesse prejudicar seu "limpo" (e expansivo) Estado sionista com todos os meios à sua disposição. Além disso, seu atual crime não só tornou impossível qualquer solução de dois Estados que fosse baseada em outra coisa senão um regime do tipo bantustão, mas também tornou até mesmo a solução de um Estado quase impossível, dado o imenso ódio que o criminoso tratamento do povo palestiniano gerou entre os povos árabes. É, portanto, evidente que os crimes dos sionistas nunca serão perdoados e esquecidos pelos povos do mundo em geral e os povos árabes em especial, a menos que os judeus de Israel e suas comunidades no estrangeiro comecem uma campanha sistemática para derrubar esse regime criminoso e sua ideologia e a sua substituição por um regime multicultural para todos os povos da Palestina como o primeiro passo para a criação de uma Democracia Inclusiva confederada lá, ou seja, uma verdadeira democracia que envolva a distribuição igualitária de poder entre todos os cidadãos.

 

 


* Uma versão muito mais curta deste artigo foi publicada na coluna quinzenal de Takis Fotopoulos no diário de grande circulação de Atenas, Eleftherotypia, (3/1/2009).


[1] Para a definição da elite transnacional, ver Takis Fotopoulos, “Globalisation, the reformist Left and the Anti-Globalisation «Movement »,” Democracy & Nature, Vol. 7, No. 2 (July 2001).

[2] Takis Fotopoulos, “Mass media, Culture and Democracy, ” Democracy & Nature, Vol. 5, No. 1 (March 1999).

[3] Ver Takis Fotopoulos, “The myths about the economic crisis, the reformist Left and economic democracy,” The International Journal of Inclusive Democracy, Vol. 4, No. 4 (October 2008).

[4] See Takis Fotopoulos, Towards An Inclusive Democracy (London, NY: Cassell/Continuum, 1997/1998), Part II.

[5] Takis Fotopoulos, “The First War of the Internationalised Market Economy,” Democracy & Nature, Vol. 5, No. 2 (July 1999).

[6] Takis Fotopoulos, “The global «war» of the transnational elite,” Democracy & Nature, Vol. 8, No. 2 (July 2002).

[7] Takis Fotopoulos, “Iraq: the new criminal «war» of the transnational elite,” Democracy & Nature, Vol. 9, No. 2 (July 2003).

[8] Takis Fotopoulos, “Is degrowth compatible with a market economy?,” The International Journal of Inclusive Democracy, Vol. 3, No. 1 (January 2007).

[9] See Takis Fotopoulos, “A systemic Crisis in Greece” (in this issue).

[10] Benny Morris, The Birth of the Palestinian Refugee Question (Cambridge University, December 11, 2003); Ilan Pappé, The Ethnic Cleansing of Palestine (Oneworld Publications, 2006); ver, também, Eric Rouleau, “The «ethnic cleansing» of Palestine,” Le Monde diplomatique (English edition) (May 2008).

[11] Sobre a natureza racista do regime sionista ver Takis Fotopoulos, “Palestine: the hour of truth,” The International Journal of Inclusive Democracy , Vol. 2, No. 2 (January 2006).

[12] Norman Finkelstein, The Holocaust Industry (Verso, 2000).

[13] Donald Macintyre, “Chronic malnutrition in Gaza blamed on Israel,” The Independent (15/11/2008).

[14] Chris McGreal, “Why Israel went to war in Gaza,” The Observer (4/1/2009).

[15] Heather Sharp, “Rocket attacks plague Israeli towns,” BBC News (28/12/2008).

[16] Seumas Milne, “Israel's onslaught on Gaza is a crime that cannot succeed,” The Guardian (30/12/2008).

[17] Chris McGreal, “Why Israel went to war in Gaza”.

[18] Chris McGreal, ibid.

[19] Heather Sharp, “Who is a civilian?,” BBC News (Jerusalem 05/01/2009).

[20] European Left, “Another Middle East is possible” (29 December 2008).

[21] John McCarthy, “If it was your home, what hope «restraint»?,” The Independent (4/1/2009).

[22] Takis Fotopoulos, “Palestine: the hour of truth”.

[23] Stanley Aronowitz, “Setting the Record Straight: Zionism from the Standpoint of its Jewish Critics,” Logos, Issue 3.3 (Summer 2004).

[24] Takis Fotopoulos, “Palestine: the hour of truth”.

[25] Ver, por exemplo, Ahmad Samih Khalidi, “A one-state solution,” The Guardian (29/09/2003) & Conal Urquhart, “Gaza shifts to a new solution,” The Observer (14/09/2003).

[26] Ver, por exemplo, Esther Addley, “Lines in the sand,” The Guardian (25/07/2002).

[27] John Rose, The Myths of Zionism (Pluto Press, 2005).

 

 

 

[ATUALIZAÇÃO: Adendo Adicionado (19/01/2009)]


ADENDO: Por Que a Brutalidade Sionista em Gaza?*

 

A violência sistêmica sionista em Gaza, que é totalmente apoiada pelo resto da elite transnacional (EUA, UE) e os seus tirânicos regimes sátrapas árabes, já atingiu os limites da brutalidade. Está agora claro que o exército israelense não só ignora deliberadamente o fato de que, quando se engaja em bombardeios supostamente "cirúrgicos" da região mais populosa do mundo, em que 1,5 milhões de refugiados foram arrebanhados, irá inevitavelmente causar vítimas em massa entre os civis, mas (como já foi estabelecido, mesmo pelas agências da ONU e as ONG's no terreno) também deliberadamente assassina civis em uma orgia sem precedentes do terrorismo de Estado. Assim, o órgão sênior de direitos humanos da ONU aprovou uma resolução que condena a ofensiva israelense por "violações maciças dos direitos humanos", enquanto uma fonte da ONU disse que as agências humanitárias do orgão estiveram compilando provas de crimes de guerra e transmitindo-as ao "mais alto nível" para serem usadas como for julgado conveniente. Além disso, alguns ativistas de direitos humanos alegaram que a liderança israelense deu uma ordem para manter baixas as vítimas militares, não importando o custo para os civis. Na verdade, a razão pela qual o exército israelense nunca entrou no coração da cidade de Gaza foi reclamar a "vitória" sobre o Hamas sem sofrer perdas significativas.[1] Isto é como a proporção de 100 habitantes de Gaza mortos para cada israelense foi mantida durante todo este brutal ataque sionista contra pessoas indefesas, com quase 1.300 habitantes de Gaza, 40% deles mulheres e crianças, mortos em contraste com 13 soldados e civis israelenses.

 

Em particular, os militares israelenses foram acusados de:

 

• Utilizar projéteis poderosos em áreas civis que o exército sabia que iriam causar um grande número de baixas entre pessoas inocentes;

• Usar armas proibidas, tais como bombas de fósforo;

• Usar famílias palestinas como escudos humanos;

• Atacar instalações médicas, o que resultou na morte de 12 homens de ambulância em veículos marcados;

• Matar grande número de policiais que não tiveram nenhum papel militar.

 

Além disso, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) citou o bombardeio de uma casa em Gaza pelas forças israelenses, para a qual eles haviam movido cerca de 110 palestinos 24 horas antes, como "um dos mais graves incidentes",[2] além de alvejar civis palestinos que tentavam sair de suas casas ― em alguns casos, levando bandeiras brancas![3]

 

Para Richard Falk, relator especial da ONU sobre os territórios palestinos e professor de direito internacional na Universidade de Princeton, "há uma visão bem fundamentada de que tanto os ataques iniciais em Gaza e as táticas utilizadas por Israel são graves violações da Carta da ONU, das convenções de Genebra, do direito internacional e do direito humanitário internacional."[4] Como Falk concluiu: "Se houvesse vontade política poderia ser criado um tribunal ad hoc para ouvir as acusações de crimes de guerra." Claro, ninguém é ingênuo o suficiente para acreditar que qualquer membro da elite transnacional ou sionista será punido por um tribunal internacional dentro do sistema atual, e é certo que as ONG's, que estavam muito interessadas em trazer Milosevic e outros (que passaram a ser inimigos dessa elite) a esse tribunal, logo esquecerão a sua presente retórica!

 

Em todos estes casos, o exército israelense mentiu sistematicamente, como tem, de fato, feito em toda a sua história, de acordo com Robert Fisk, que pessoalmente verificou algumas de suas histórias. Eis como ele descreveu:[5]

Depois da artilharia israelenses disparar projéteis na base da ONU em Ana, em 1996, os israelenses alegaram que militantes do Hezbollah também estavam abrigados na base. Era mentira. (...) Israel alegou que os corpos das crianças mortas em um segundo massacre de Qana poderiam ter sido retirados de um cemitério. Era outra mentira. O massacre de Marwahin nunca foi justificado. As pessoas da vila receberam ordem para fugir, obedeceram as ordens de Israel e foram atacados por um helicóptero israelense. Os refugiados pegaram seus filhos e os colocaram de pé ao redor do caminhão em que viajavam para que os pilotos israelenses vissem que eram inocentes. Então, o helicóptero israelense alvejou-os à queima-roupa. Apenas dois sobreviveram, fingindo-se de mortos. Israel nem sequer pediu desculpas. Doze anos antes, outro helicóptero israelense atacou uma ambulância que transportava civis de uma aldeia vizinha ― mais uma vez depois que foram ordenados a sair pelos israelenses ― e matou três crianças e duas mulheres. Os israelenses alegaram que um combatente do Hezbollah estava na ambulância. Não era verdade. Cobri todas essas atrocidades, investiguei todas elas, conversei com os sobreviventes. Assim também fizeram vários dos meus colegas. Nosso destino, é claro, foi aquele mais calunioso dos libelos: fomos acusados de ser anti-semitas.

De maneira semelhante, Fisk descreveu como o governo de Menachem Begin acusou o mundo de um libelo de sangue quando Israel foi culpado pelo massacre de Sabra e Chatila, até que a própria comissão de inquérito de Israel foi forçada, após a condenação mundial, a admitir que o exército israelense assistiu ao massacre por 48 horas e não fez nada. Isso não impediu o produtor cinematográfico sionista "progressista", Ari Folman ― que estava entre esses soldados ― de tentar apresentá-los como sendo psicologicamente traumatizados pela experiência por que passaram ao assistir a este massacre, e de culpar a liderança de Sharon por tudo, em seu filme vencedor do Globo de Ouro, Waltz with Bashir. No entanto, foram soldados semelhantes que não tiveram qualquer escrúpulo em cometer as atrocidades mencionadas acima, em Gaza!

 

No entanto, como podemos explicar a última bestialidade sionista, que pode muito bem ter excedido qualquer uma anterior? Acho que a explicação deve ser procurada em termos do objetivo desta campanha monstruosa que, como afirmei acima, tem sido a "mudança de regime", ou seja, o "enfraquecimento do Hamas" (tanto quanto o apoio popular na Faixa de Gaza está em causa), de modo que ela possa ser conseguida, quer pelo regime de Abbas ou, pelo menos, por um governo baseado tanto no Fatah e no Hamas. Contudo, a condição para que isso aconteça foi colocar a resistência de joelhos, e a única maneira para alcançar este objetivo foi aterrorizar o povo de Gaza, começando pela violência econômica que o levou à sua atual miséria econômica e continuando com a brutal violência física contra o "populacho" ― uma atividade em que o exército israelense especializo-se talvez mais do que qualquer outro exército do mundo. Assim, na primeira Intifada, o próprio exército, por ordem do "progressista" Yitzhak Rabin também conhecido como o "quebrador de ossos", estava ocupado quebrando fisicamente as mãos dos manifestantes. Hoje, esse mesmo exército está ocupado quebrando as cabeças dos moradores de Gaza, sejam eles suspeitos de "terrorismo" ou não.

 

O objetivo intermediário é obrigar o povo de Gaza e as suas organizações de resistência a renunciar à resistência e, finalmente, aceitar Abbas ― ou seja o escolhido pela elite transnacional e os sionistas ― como seu líder, em troca de um compromisso por parte dos israelenses de parar a flagrante violação da lei internacional através do estrangulamento da Faixa de Gaza por meio de seu bloqueio total! O objetivo final, que será implementado pela administração "progressista" Obama com a ajuda de um Congresso complacente, que acaba de aliar-se totalmente à atual campanha criminosa (aprovando uma resolução a favor dela com uma maioria "democrática" de 98%) , é a solução de "dois Estados" que, de acordo com o honesto historiador judeu Ilan Pappe ― que foi obrigado pelos sionistas a um exílio auto-imposto ― entende-se por um estado sionista construído sobre 90% da Palestina histórica, com os restantes 10% sendo compartilhado entre as duas grandes prisões que são a Cisjordânia e a Faixa de Gaza (isto é, a solução do "bantustão").[6] É claro que isso é o que a atual coalizão de centro-direita sionista pretende alcançar quando, se o partido de direita sionista Likud assumir nas próximas eleições, como o líder do Likud recentemente colocou depois de quase endossar uma solução de dois Estados que criaria um Estado palestino independente, "eu gostaria de ter certeza de que os palestinos têm os meios para governar a si mesmos, mas não para ameaçar a sobrevivência do Estado de Israel."[7]

 

No entanto, ainda permanece a questão de qual foi a fonte da ousadia israelense, uma vez que ela nunca foi exibida durante as últimas três semanas, quando não só o menor arrependimento sincero por este enorme crime nunca foi expressado, mas, além disso, os organismos mundiais como os órgãos das Nações Unidas para os Direitos Humanos e diversas ONG's (não exatamente instituições radicais!) foram abertamente tratados com desprezo, como o foram milhões de pessoas em todo o mundo que se manifestaram contra este crime contra a humanidade em uma escala maciça. De fato, em países como os EUA e a Grã-Bretanha, os sionistas foram ousados o suficiente até mesmo para organizar manifestações a favor deste crime! Claramente, o apoio direto (EUA) ou indireto (UE) da elite transnacional e dos meios de comunicação controlados por ela explicaria em parte isso. Não admira que Ehud Olmert ― como ele mesmo revelou ― ordenou a Bush, no estilo de um comandante, de se abster de votar a favor de uma resolução de cessar-fogo da ONU, apesar do fato de que este já tinha sido aprovado pelo resto da elite transnacional, incluindo a humilhada Secretária de Estado, Condoleezza Rice![8]

 

Na minha opinião, no entanto, o principal fator por trás dessa ousadia é a conversão em massa do povo israelita a uma ideologia criminosa, o sionismo, o que levou à sua brutalização, como indicado pelo fato de que até o último dia da campanha criminosa mais de 90% dos judeus israelenses apoiaram a invasão[9], com apenas algumas vozes (principalmente de judeus honesto fora de Israel), rejeitando não apenas o sionismo regular, mas também o sionismo "de Esquerda" e seu posicionamento de "distâncias iguais" expressas por pessoas como Noam Chomsky, Immanuel Wallerstein, Howard Zinn, et. al. Intelectuais como estes assinaram uma declaração condenando Israel não apenas por um crime contra a humanidade, mas também a resistência dos habitantes de Gaza (como expressada pelo Hamas) por seu uso de métodos "moralmente falsos", apesar de não divulgar, para nosso benefício, quaisquer métodos "moralmente corretos" para lidar com a enorme assimetria de poder entre o ocupante e a vítima! Obviamente, a desculpa dada para o apoio maciço deste crime por pessoas como Yossi Sarid, ex-chefe do partido liberal Meretz ("as pessoas estavam cansadas de assistir as cidades no sul ser bombardeadas, por isso não houve quase nenhuma visão crítica dos acontecimentos)"[10], é particularmente frágil, pois mesmo um analista liberal da BBC indiretamente salientou[11]:

Por muitos anos, a Grã-Bretanha enfrentou uma revolta e às vezes uma guerra civil de baixo nível na Irlanda do Norte. (…) Em diferentes momentos o IRA plantou bombas na Grã-Bretanha que mataram pessoas e causaram muitos prejuízos. As ações das forças de segurança britânicas durante três décadas dos Problemas foram muito controversas, e ainda o são hoje. Às vezes, o exército britânico matou pessoas inocentes. Mas a Grã-Bretanha nunca usou armas pesadas, jatos e helicópteros de ataque.

É por isso que eu acredito que a única explicação significativa para a arrogância daqueles que apóiam este crime, dentro ou fora de Israel, é a ideologia do sionismo. Um colunista liberal do Independent apropriadamente colocou-a como segue[12]:

Comentaristas pró-israelenses tornaram-se ainda mais ferozmente "patrióticos" conforme foram surgindo as revelações da destruição de pessoas, paz e esperança em Gaza. Nas páginas de cartas os sionistas dizem que a violência ― incluindo queimaduras de fósforo em crianças ― é "lamentável" mas necessária. Uma nação que pede ao mundo que não esqueça o que foi feito ao seu povo por Hitler, tem defensores que acreditam que a limpeza étnica brutal é "lamentável".

PS No momento da publicação, em seguida ao cessar-fogo unilateral declarado pelo governo de Israel e o Hamas, os representantes da elite transnacional e dos regimes sátrapas árabes, incluindo o seu protegido Abbas, mas excluindo o Hamas, convocou no Egito, em uma tentativa de forçar o Hamas a efetivamente abandonar qualquer idéia de resistência contra a ocupação e unir forças com Abbas para continuar as negociações para o beco sem saída da solução de "dois Estados" (bantustão), em troca da suspensão do bloqueio de Gaza. Claramente, se conseguirem fazer isso, seria a indicação mais clara até agora de que a campanha brutal contra Gaza teve sucesso afinal no esmagamento da resistência palestina, uma vez que, após o abandono efetivo do direito de resistir a pelo povo na Cisjordânia, Gaza foi a última fortaleza da resistência no Oriente Médio.

 

 


* O adendo é baseado em um artigo publicado na coluna quinzenal de Takis Fotopoulos no diário de grande circulação de Atenas, Eleftherotypia em 17/1/2009.


[1] Chris McGreal, “Demands grow for Gaza war crimes investigation,” The Guardian (13/1/2009).

[2] BBC, “Israel «shelled civilian shelter»,” (09/01/2009).

[3] BBC, “Israelis «shot at fleeing Gazans»” (14/01/2009).

[4] Α fua Hirsch, “Israel may face UN court ruling on legality of Gaza conflict,” The Guardian (14/01/2009).

[5] Robert Fisk, “Why do they hate the West so much, we will ask,” The Independent (7/01/2009).

[6] See the documentary by Sufuan & Abdallah Omeish, “Occupation 101” (2007).

[7] Rory McCarthy, “Binyamin Netanyahu demands «crippling» of Hamas,” The Independent (13/01/2009).

[8] Ewen MacAskill, “UN climbdown,” The Guardian (14/01/2009).

[9] Toni O'Loughlin, “Backing for invasion remains strong,” The Guardian (14/01/2009).

[10] Ben Lynfield, “«My daughters, they killed them»: TV doctor shows Israelis horror of war,” The Independent (19/01/2009).

[11] Jeremy Bowen's Diary, BBC (14/01/2009).

[12] Yasmin Alibhai-Brown, “Israel's friends cannot justify this slaughter,” The Independent (19/01/2009).