http://resistir.info/europa/caos_planeado_11set14.html (19.09.2014)


 

A NATO e o "caos" planeado do mundo

 

por Takis Fotopoulos*

 

Nos dias de hoje, muitas pessoas que nem mesmo têm tempo para entender o que realmente está a acontecer em torno de si – particularmente aquelas absorvidas na luta pela sobrevivência que deixam sobretudo aos "peritos" da TV a tarefa de pensar por elas – habitualmente têm a impressão de que vivemos num mundo caótico. Refiro-me, naturalmente, às vítimas da globalização neoliberal – a grande maioria da população mundial – e não aqueles que com ela se beneficiam, incluindo muitos na intelligentsia que nem mesmo vêem que há uma Nova Ordem Mundial (NOM) baseada na globalização neoliberal e administrada por uma Elite Transnacional (ET) – basicamente as elites dos países "G7". Contudo, é só dentro de um quadro analítico que alguém pode realmente entender porque o nosso mundo é tudo menos caótico, no sentido comum da desordem imprevisível.

As decapitações no Iraque repetidas continuamente nos écrans da TV (com a
óbvia intenção dos media controlados pela ET de incitar a islamofobia e distrair a atenção do massacre muito maior em Gaza, como contrapeso à ascensão do anti-sionismo por todo o mundo) estão directamente conectadas à invasão conduzida pela NATO e a consequente destruiçã
o do Iraque.[1] Analogamente, esta última está directamente ligada aos anteriores bombardeamentos brutais da NATO na Jugoslávia que foram concebidos para desmembrar aquele país, bem como os bombardeamentos semelhantes da NATO que se seguiram na Líbia, os quais destruíram a infraestrutura do país e converteram-no num "estado fracassado". Vem então a "insurreição" armada organizada na Síria e ninguém será surpreendido se bombardeamentos da NATO semelhantes aos da Líbia ali começarem, sob o pretexto de combater terroristas islâmicos (aqueles mesmos que uns poucos meses atrás eram apoiados pela ET com o objectivo de derrubar Assad!). Finalmente, vimos este ano que o modelo de "insurreições" armadas foi transplantado para o próprio solo europeu, na Ucrânia, o qual ameaça lançar todo o continente numa guerra total.[2]

 

Ao mesmo tempo, testemunhamos a continuada e desumana limpeza étnica sionista dos palestinos, ou o "genocídio incremental", como foi denominado pelo historiador judeu Ilan Pappe,[3] o qual é um dos mais importantes historiadores que o fundamentou e está no primeiro plano dos poucos judeus verdadeiramente anti-sionistas. Isto está em contraste com a elite sionista internacional,[4] a qual está agora ocupada em aprovar leis fascistas pretensamente "anti-racistas" em parlamentos da UE. Portanto, é introduzido um modo legalmente obrigatório de perceber até acontecimentos históricos tais como o "Holocausto", o qual agora deve ser reconhecido (com a ameaça de aprisionamento) como um genocídio historicamente único. Isto apesar do facto de que, por exemplo, o genocídio dos arménios (ou o "Holocausto" arménio como por vezes é chamado) foi provavelmente muito mais vasto – sem mencionar o genocídio dos índios nas América, na Austrália, etc., os quais essencialmente liquidaram nações inteiras! Isto naturalmente é um velho debate que começou nestes países que introduziram primeiro legislação semelhante, dado o seu envolvimento ou simpatias para com a Alemanha nazi (isto é, a própria Alemanha, Áustria, Suíça, França, etc) mas que voltou agora à superfície devido ao actual esforços sistemático da UE para forçar parlamentos europeus a aprovarem legislação semelhante (sendo a Grécia o exemplo mais recente). A França, em particular, tornou-se infame quando utilizou uma lei como essa para processar mesmo o bem conhecido comunista e combatente da resistência Roger Garaudy como "negador do Holocausto", estabelecendo o princípio fascista de que acontecimentos históricos não são sujeitos a investigação histórica e de memória colectiva mas um assunto a ser tratado pelo Estado e quem quer que seja que o controle![5]

A ligaç
ão entre todas estas guerras e massacres, mas também a correspondente guerra económica que agora estrangula o povo grego, o português, o espanhol (e actualmente mesmo o povo francês que ainda resiste à globalização), é o esforço sistemático da ET que dirigem a NOM da globalização neoliberal a integrar todos os povos ainda não plenamente integrados nelas. Contudo, apesar das tolices da "Esquerda" degenerada, a qual fala acerca de "más" políticas neoliberais etc impostas por alguns "traidores" da social-democracia, ou a tolice equivalente da Esquerda Marxista Paleolítica que tenta "explicar" estas guerras com a doutrina dos "conflitos intra-imperialistas", a consequência é simplesmente a viragem dos estratos populares para a direita patriótica ou nacionalista, se não a própria extrema direita, como vimos na últimos eleições europeias. A bancarrota ideológica da "esquerda" tornou-se evidente quando foi incapaz de explicar a unidade sem precedentes da ET no apoio a todas estas guerras, apesar dos "conflitos intra-imperialistas". A menos, naturalmente, que os únicos imperialismos disponíveis sejam por um lado o imperialismo das ET e por outro o "imperialismo" russo, apesar do facto de que a Federação Russa não começou qualquer guerra imperialista na história nem tão pouco controla da economia mundial através de Corporações Transnacionais (CTNs), ou a organização política do mundo através de centenas de bases militares por todo o mundo, ou finalmente os media mundiais através de corporações e magnatas da imprensa.

Tudo isto, no exacto momento em que os media controlados pela ET est
ão ocupados a promover o mito da Rússia inclinada a conquistar o mundo embora qualquer teoria acerca da NOM a globalização neoliberal e da ET a dirigi-la seja afastada (com a ajuda decisiva da mesma "Esquerda") como uma teoria da conspiração. Não surpreendentemente, esta "Esquerda" acusa Hollande por uma meia volta em relação às suas promessas socialistas esquecendo que o seu antecessor Mitterrand também foi forçado a fazer exactamente a mesma meia volta, quem dirá Oscar Lafontaine na Alemanha que foi forçado a demitir-se quando tentou introduzir políticas económicas não compatíveis com a globalização neoliberal.

Isto naturalmente porque agora é inconceb
ível para qualquer país plenamente integrado na NOM implementar quaisquer políticas diferentes das políticas neoliberais universais. Isto não é alguma espécie de conspiraçã
o[6] ou apenas uma má ideologia implementada por alguns bandalhos (banqueiros, políticos, etc). Isto é exactamente a consequência inevitável da abertura e liberalização dos mercados para capitais, commodities e trabalho e da adesão de instituições internacionais controladas pela ET (OMC, FMI, BM, etc) cuja tarefa é impor estas políticas quando, por exemplo, um país membro pede um empréstimo ou beneficia de um programa de investimento. É desnecessário acrescentar que o desmantelamento da auto-confiança pela globalização e pela criação de economias de exportação por toda a parte transforma a maior parte dos países integrados na NOM, e particularmente os mais fracos, em mendigos o investimento das CTNs, de modo a poderem evitar a estagnação e a contracção de empréstimos. Portanto, todo país sabe muito bem em que ritmo deveria dançar.

Além disso, n
ão só os BRICS (excepto a Rússia) estão completamente integrados na NOM, sem partilhar qualquer soberania transnacional significativa (poder económico, político, militar e mediático a nível transnacional) como, ainda pior, suas soberanias nacionais são claramente inferiores àquela da Rússia. A China, por exemplo, está altamente integrada na economia global, um facto que levou a um dramático aumento da desigualdade neste paí
s "socialista", desde que foi plenamente integrada na NOM,[7] ao passo que o seu status como uma superpotência económica está baseado claramente na sua enorme população (o poder de compra do PIB per capita da sua população é o 99º no mundo) e no significativo poder industrial e comercial criado pela transferência maciça das CTNs dos países da EFT, nos últimos trinta anos ou mais, em busca da minimização do custo de produção e da maximização do lucro.

As conclusões acima acerca da R
ússia foram confirmadas na semana passada durante a Cimeira da NATO, numa Cardiff sob a ocupação do serviços de segurança, onde foram efectuadas discussões sobre como subjugar directamente o povo na Ucrânia Oriental (a qual está a resistir à junta que lhes foi imposta através de um "golpe a partir de baixo" organizado pela Elite Transnacional) e também como subjugar indirectamente o povo russo, cuja vasta maioria apoia a luta da resistência.

Assim, a decis
ão crítica que determinará o destino não só da Rússia e da União Euro-asiática como também de todos nós será tomada dentro da própria Rússia. Uma opção é que prevaleça a parte da elite russa favorável à globalização; a alternativa é a de predominar a anti-globalização patriótica. Qual das opções será escolhida determinará se a Rússia capitulará à governação global da ET ou se, ao contrário, actuará como líder de uma ordem mundial alternativa de estados soberanos baseada na União Euro-Asiática, como fora originalmente concebido, a qual terá como objectivo alcançar auto-confiança (self reliance) nacional e económica em cada paí
s – um requisito prévio para qualquer mudança sistémica no futuro...

O original encontra-se em


Este artigo encontra-se em


 

* Editor de The International Journal of INCLUSIVE DEMOCRACY . Este artigo é uma síntese de dois outros publicados originalmente na coluna semanal do autor em Sunday's Eleftherotypia (jornal grego publicado em Atenas) em 31/08/2014 and 07//09/2014. A tradução para o inglês foi editado por Jonathan Rutherford. Este artigo também foi publicado em simultâneo por Pravda.ru a 10/09/2014

[1] Ver Takis Fotopoulos, "ISIS role in destruction of Iraq by transnational elite", RT, 11/7/2014  

[2] Ver Takis Fotopoulos, Ukraine: The attack on Russia and the Eurasian Union (to be published shortly by Progressive Press).

[3] Ilan Pappe, "Israel's incremental genocide in the Gaza ghetto", The Electronic Intifada,

[4] Para a relação entre a ET e a elite sionista, ver Takis Fotopoulos, "The Zionist Brutalization Within the New World Order and the Need for a United Multi-national and Multicultural State", The International Journal of INCLUSIVE DEMOCRACY, Vol. 10, Nos. 1/2 (Winter-Summer 2014).

[5] Para uma discussão das questões envolvidas nesta espécie de legislação de inspiração fascista, ver Norman Finkelstein, The Holocaust Industry, (Verso, 2000) and for an older discussion, Mark Weber, "Switzerland's Anti-Racism Law", The Journal of Historical Review, July/August 1998 (Vol. 17, No. 4), page 13

[6] Ver por exemplo best seller de tal teoria da conspiração em Naomi Klein, The Shock Doctrine, (Penguin, 2008)

[7] 'China reveals income gap statistics after 12 year of silence', RT (18/1/2013).